Repasse de armas apreendidas do Irã, aposta maior em infantaria e expansão da produção estão entre as alternativas. Nenhuma delas é muito boa
Porto Velho, RO - Um problema da Ucrânia na resistência contra a invasão da Rússia é elementar: ela dispara mais projéteis de artilharia do que o ritmo de produção de seus aliados ocidentais.
Reunido em Bruxelas nesta segunda e terça-feira, o Grupo de Contato sobre a Ucrânia, conhecido como “Grupo Ramstein”, discutiu formas de expandir essa produção e de levar mais munição até a Ucrânia. Presidido pelos EUA, o grupo, que conta com a participação de quase 50 países, é responsável pela tomada de decisões sobre entrega de armas a Kiev.
— A taxa atual de gastos com munição da Ucrânia é muitas vezes maior do que nossa taxa atual de produção. Isso coloca nossas indústrias de defesa sob pressão — disse Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, na segunda-feira. — É claro que estamos numa corrida logística. Recursos-chave como munição (...) devem chegar à Ucrânia antes que a Rússia possa tomar a iniciativa no campo de batalha.
A Ucrânia enfrenta escassez de projéteis de artilharia, sobretudo de 155mm. Estima-se que as forças ucranianas façam cerca de 6 mil disparos artilharia todos os dias, quantidade diária comparável ao consumo anual de um pequeno país europeu. Esse índice, todavia, não está acima dos padrões históricos de outras guerras, e fica muito abaixo do consumo russo, estimado em 20 mil projéteis diários.
A Rússia prepara uma ofensiva renovada, e a própria Ucrânia deve lançar mais uma contraofensiva na primavera. Para manter a intensidade no campo de batalha, Kiev precisa de munição, e isto faz os aliados buscarem alternativas.
Uma opção para reforçar os estoques imediatamente pode vir de uma apreensão oriunda de um inimigo dos EUA. Segundo reportou o Wall Street Journal, o governo americano avalia entregar à Ucrânia milhares de armas e mais de um milhão de cartuchos de munição que foram apreendidos pela Marinha dos EUA na costa do Iêmen de contrabandistas suspeitos de trabalhar para o Irã.
Entre as armas que podem ser potencialmente enviadas à Ucrânia estão um pequeno número de mísseis antitanque e mais de 7 mil fusíveis de proximidade, além de mais de 5 mil fuzis e de 1,6 milhão de cartuchos de munição para armas pequenas.
A ação, incomum, seria um remendo. Não se sabem quantos projéteis de artilharia há, nem se servem nos equipamentos usados pela Ucrânia.
No entanto, as entregas abririam uma nova fonte de armas para serem entregues à Ucrânia. O desafio é encontrar justificativa legal: o embargo de armas da ONU exige que os EUA e seus aliados destruam, armazenem ou se livrem das armas apreendidas.
Na reunião em Bruxelas, segundo o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, a alternativa apresentada foi o treinamento de soldados ucranianos para usarem mais táticas coordenadas de infantaria, empregando menos artilharia e aliviando a pressão sobre os suprimentos. Atualmente, ao longo de uma frente de quase mil quilômetros de comprimento, os dois lados disparam obuses um contra o outro todos os dias.
Isto, no entanto, pode não vir a ser o suficiente. Ademais, os tanques doados pelos países ocidentais, que devem demorar meses para chegar, ainda usarão outros tipos de munição, que também precisarão de estoques.
Estes são escassos por motivos econômicos. Como são usados em grandes quantidades durante guerras, os projéteis precisam ser baratos, e, portanto, os fabricantes devem ter uma margem pequena de retorno. Como, em tempos de paz, os países têm necessidades baixas, há pouco incentivo à produção, o que levou muitas fábricas de munições a serem reduzidas ou fechadas.
O presidente russo, Vladimir Putin, mobilizou toda a economia para o estado de guerra, incluindo sua indústria, que não enfrenta as mesmas limitações do Ocidente. Mesmo assim, há relatos de que as forças russas já estejam usando alguns projéteis guardados há mais de 40 anos.
Na sexta-feira, o presidente do Conselho da União Europeia (UE), Charles Michel, disse que o bloco precisa “cooperar com o setor industrial e garantir que possamos acelerar o nível de produção de munição”.
O Pentágono já está em parte fazendo isso, correndo para aumentar a produção de projéteis de artilharia em 500% em dois anos, levando a produção de munição convencional a níveis não vistos desde a Guerra da Coreia.
Há mais alternativas surgindo. Nesta quarta-feira, a agência estatal ucraniana RFE/RL noticiou que o Exército dos EUA assinou contratos no valor de US$ 522 milhões com as empresas Northrop Grumman e Global Military Products, que fabricarão projéteis de artilharia para as Forças Armadas da Ucrânia.
O jornal New York Times também informou que os países da Otan estão discutindo investimentos em antigas fábricas na República Tcheca, na Eslováquia e na Bulgária para retomar a produção de projéteis da era soviética para o arsenal de artilharia ucraniano.
Segundo o mesmo jornal, antes da invasão russa da Ucrânia, as fábricas militares americanas produziam 14,4 mil projéteis de artilharia por mês. Agora o Pentágono planeja aumentar a produção para 90 mil projéteis por mês. O problema é o prazo: isto pode levar até dois anos.
Fonte: O GLOBO
Porto Velho, RO - Um problema da Ucrânia na resistência contra a invasão da Rússia é elementar: ela dispara mais projéteis de artilharia do que o ritmo de produção de seus aliados ocidentais.
Reunido em Bruxelas nesta segunda e terça-feira, o Grupo de Contato sobre a Ucrânia, conhecido como “Grupo Ramstein”, discutiu formas de expandir essa produção e de levar mais munição até a Ucrânia. Presidido pelos EUA, o grupo, que conta com a participação de quase 50 países, é responsável pela tomada de decisões sobre entrega de armas a Kiev.
— A taxa atual de gastos com munição da Ucrânia é muitas vezes maior do que nossa taxa atual de produção. Isso coloca nossas indústrias de defesa sob pressão — disse Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, na segunda-feira. — É claro que estamos numa corrida logística. Recursos-chave como munição (...) devem chegar à Ucrânia antes que a Rússia possa tomar a iniciativa no campo de batalha.
A Ucrânia enfrenta escassez de projéteis de artilharia, sobretudo de 155mm. Estima-se que as forças ucranianas façam cerca de 6 mil disparos artilharia todos os dias, quantidade diária comparável ao consumo anual de um pequeno país europeu. Esse índice, todavia, não está acima dos padrões históricos de outras guerras, e fica muito abaixo do consumo russo, estimado em 20 mil projéteis diários.
A Rússia prepara uma ofensiva renovada, e a própria Ucrânia deve lançar mais uma contraofensiva na primavera. Para manter a intensidade no campo de batalha, Kiev precisa de munição, e isto faz os aliados buscarem alternativas.
Uma opção para reforçar os estoques imediatamente pode vir de uma apreensão oriunda de um inimigo dos EUA. Segundo reportou o Wall Street Journal, o governo americano avalia entregar à Ucrânia milhares de armas e mais de um milhão de cartuchos de munição que foram apreendidos pela Marinha dos EUA na costa do Iêmen de contrabandistas suspeitos de trabalhar para o Irã.
Entre as armas que podem ser potencialmente enviadas à Ucrânia estão um pequeno número de mísseis antitanque e mais de 7 mil fusíveis de proximidade, além de mais de 5 mil fuzis e de 1,6 milhão de cartuchos de munição para armas pequenas.
A ação, incomum, seria um remendo. Não se sabem quantos projéteis de artilharia há, nem se servem nos equipamentos usados pela Ucrânia.
No entanto, as entregas abririam uma nova fonte de armas para serem entregues à Ucrânia. O desafio é encontrar justificativa legal: o embargo de armas da ONU exige que os EUA e seus aliados destruam, armazenem ou se livrem das armas apreendidas.
Na reunião em Bruxelas, segundo o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, a alternativa apresentada foi o treinamento de soldados ucranianos para usarem mais táticas coordenadas de infantaria, empregando menos artilharia e aliviando a pressão sobre os suprimentos. Atualmente, ao longo de uma frente de quase mil quilômetros de comprimento, os dois lados disparam obuses um contra o outro todos os dias.
Isto, no entanto, pode não vir a ser o suficiente. Ademais, os tanques doados pelos países ocidentais, que devem demorar meses para chegar, ainda usarão outros tipos de munição, que também precisarão de estoques.
Estes são escassos por motivos econômicos. Como são usados em grandes quantidades durante guerras, os projéteis precisam ser baratos, e, portanto, os fabricantes devem ter uma margem pequena de retorno. Como, em tempos de paz, os países têm necessidades baixas, há pouco incentivo à produção, o que levou muitas fábricas de munições a serem reduzidas ou fechadas.
O presidente russo, Vladimir Putin, mobilizou toda a economia para o estado de guerra, incluindo sua indústria, que não enfrenta as mesmas limitações do Ocidente. Mesmo assim, há relatos de que as forças russas já estejam usando alguns projéteis guardados há mais de 40 anos.
Na sexta-feira, o presidente do Conselho da União Europeia (UE), Charles Michel, disse que o bloco precisa “cooperar com o setor industrial e garantir que possamos acelerar o nível de produção de munição”.
O Pentágono já está em parte fazendo isso, correndo para aumentar a produção de projéteis de artilharia em 500% em dois anos, levando a produção de munição convencional a níveis não vistos desde a Guerra da Coreia.
Há mais alternativas surgindo. Nesta quarta-feira, a agência estatal ucraniana RFE/RL noticiou que o Exército dos EUA assinou contratos no valor de US$ 522 milhões com as empresas Northrop Grumman e Global Military Products, que fabricarão projéteis de artilharia para as Forças Armadas da Ucrânia.
O jornal New York Times também informou que os países da Otan estão discutindo investimentos em antigas fábricas na República Tcheca, na Eslováquia e na Bulgária para retomar a produção de projéteis da era soviética para o arsenal de artilharia ucraniano.
Segundo o mesmo jornal, antes da invasão russa da Ucrânia, as fábricas militares americanas produziam 14,4 mil projéteis de artilharia por mês. Agora o Pentágono planeja aumentar a produção para 90 mil projéteis por mês. O problema é o prazo: isto pode levar até dois anos.
Fonte: O GLOBO
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