PM agredido em 2013 diz que atos de junho aproximaram população da política

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PM agredido em 2013 diz que atos de junho aproximaram população da política


Imagem de soldado ferido marcou protestos; hoje ele está aposentado e virou advogado

Porto Velho, RO - Há dez anos, o então soldado da Polícia Militar Wanderlei Vignoli, 53, viveu um dos momentos mais emblemáticos dos protestos de junho de 2013.

Em um dos primeiros atos contra o aumento da tarifa do transporte, no dia 11 de junho, ele tentou evitar uma pichação e acabou agredido por manifestantes. A imagem do policial ferido é tida como um dos possíveis combustíveis dos agentes de segurança nos atos seguintes.

Ele relata que teve autocontrole para não atirar, e a conduta acabou lhe rendendo diversas homenagens. Atualmente, Vignoli está aposentado da polícia e atua como advogado criminalista.

Apesar de condenar as depredações nos protestos e admitir que a ação policial está sujeita a excessos, ele vê um saldo histórico positivo em junho de 2013, com uma população mais atenta à política.

Quão marcante foi o episódio que o senhor viveu em junho, lembra com frequência disso? Eu lembro porque foi uma situação atípica, nunca tinha acontecido comigo nem com meus companheiros. Me recordo que, no meio dos manifestantes, tinha algumas pessoas que não estavam só contra o valor da passagem, queriam causar algazarra, pichar prédio público, atacar até policiais, criar baderna, né? Alguns estavam com camisa [com] capuz, mascarados. Eu estava naquele dia protegendo o patrimônio do Tribunal de Justiça e as pessoas que passavam voltando para sua residência ou trabalhando.

Como foi a agressão ao senhor? Quando eu segurei o manifestante [que estava pichando uma parede], só senti diversas pedradas na minha direção e gritos 'lincha, mata'. Aí quando eu ergui a cabeça, não sabia se tinha alguém armado ou não, e nesse momento eu puxei a arma com a intenção de afastar os manifestantes e verificar se tinha alguma arma para que não acontecesse nada com a minha vida.

Naquele momento, eu temi pela minha vida. Só que graças a Deus não vi nenhum manifestante armado e consegui manter o controle. Até porque eu já tinha 20 anos na carreira. Exigiu, além da proteção de Deus, um alto grau de autocontrole.

O senhor chegou a pensar em atirar? Eu pensei na possibilidade no momento em que tirei a arma. Quando escutei 'lincha, mata', eu falei: alguém está armado. Eu fiquei procurando se tinha arma e se tinha alguma coisa.

Como saiu da situação? Com a ajuda dos próprios manifestantes, um jornalista da Folha também entrou junto me protegendo. Logo depois chegaram vários policiais. Como minha cabeça estava bem ensanguentada, fizeram um cordão de proteção e saí.

Esse episódio mudou algo na vida do senhor? Mudou de forma positiva. O que acontece muito com policiais militares é que, muitas vezes, você atende várias ocorrências, mas não recebe o reconhecimento da população.

Eu acabei sendo uma exceção, porque recebi muito reconhecimento, da mídia e também várias instituições acabaram concedendo homenagens. Recebi o título de Cidadão Paulistano, o diploma Ramos de Azevedo, do Tribunal de Justiça, e ganhei da Assembleia Legislativa a Medalha Constitucionalista de 32, e várias outras.

O senhor acredita que a imagem do senhor ferido pode ter gerado uma reação dos policiais nas manifestações seguintes? Eu acredito que não foi por causa disso. Eu percebi que a situação acabou ficando mais crítica porque os manifestantes não estavam conseguindo o objetivo pretendido, que era o cancelamento do valor da passagem, e por isso acabou crescendo. E outra: pessoas que estavam infiltradas com os manifestantes também aumentaram. Pessoas que falaram: 'Opa, então vamos participar junto para causar o caos'.

JUNHO, 13-23

Como o senhor avalia a atuação da polícia, que foi criticada por abusar de armas não letais e deixar pessoas feridas? Todas as profissões, seja policial, seja juiz, um comerciante, têm profissionais mais bem preparados e têm profissionais que acabam não conseguindo utilizar aquela técnica e praticando um excesso. Na Polícia Militar não é diferente. Na atividade, o policial é um ser humano, então ele acaba às vezes perdendo o controle e praticando um excesso.

A minha opinião é que a polícia tentou, na grande maioria das vezes, agir da forma mais técnica possível. Ela acompanhava as manifestações com intuito de proteger os manifestantes, de certa forma, para que os excessos fossem contidos. Nossa função não é agredir nenhum manifestante, é manter o controle, proteger os manifestantes, desde que seja de forma ordeira, e coibir os excessos, como pichação de prédio público, agressão.

Situações que fogem à normalidade muitas vezes acabam tendo consequências negativas. Os policiais militares muitas vezes têm que pegar uma bomba de efeito moral e acabam jogando [na direção de] agressores, muitas vezes, no meio daqueles agressores, tem uma pessoa que não tem nada a ver, sem proteção, e um estilhaço de alguma coisa acaba infelizmente machucando.

Dez anos depois, como o senhor avalia os resultados dos protestos de junho? Retirando as coisas negativas, as pessoas que foram prejudicadas, se machucaram, retirando a depredação de prédios públicos, ônibus, pensando nas coisas positivas, eu entendo que o país cresceu. A população acabou se interessando mais nas pautas que o governo decide.

Então, hoje, muitas vezes está sendo votada a modificação de uma lei ambiental, o governo tem maior cuidado com a repercussão. Vamos supor, tem um aumento da passagem, o prefeito ou o governador vai fazer um estudo maior para saber se realmente é necessário. Então eu acredito que trouxe mais responsabilidade para os governantes e maior interesse para a população.

Essa situação marcou o início de uma certa politização da polícia, aumentou muito o número de policiais candidatos. O senhor viu aumento da politização da polícia depois de junho? Em relação a questões políticas, sempre tem aqueles policiais que são convidados a participar, sendo candidato de algum partido político. Essas manifestações, como alguns se destacaram no entender da população de maneira positiva, acabaram sendo convidados e aceitaram. Muitos acabaram ganhando eleição, se reelegendo.

Fonte: Folha de São Paulo

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