Mesmo com o STF garantindo a Delgatti o direito de não falar, o “hacker da Vaza Jato” responde às perguntas dos parlamentares
Porto Velho, RO - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos de 8 de janeiro ouve, nesta quinta-feira (17/8), o hacker Walter Delgatti Neto. A sessão começou às 9h35.
Mesmo com o Supremo Tribunal Federal (STF) garantindo a Delgatti o direito de não proferir sequer uma palavra, o “hacker da Vaza Jato” iniciou a CPMI resumindo parte da infância e juventude. “A minha intenção é contribuir com a sociedade e estou à disposição”, afirmou.
“Trabalho com TI, não terminei ainda a faculdade e precisava de internet para poder trabalhar. Nisso, apareceu uma oportunidade pela [deputada federal] Carla Zambelli de um encontro com o [ex-presidente Jair] Bolsonaro. Eu estava desamparado, sem emprego e ofereceram um emprego a mim”, afirmou.
Delgatti também revelou como conheceu Zambelli: “Eu estava na cidade de Ribeirão Preto (SP). Vi a deputada e pedi para tirar uma foto. Conversando com ela, ela passou o celular dela, anotou o meu, e ela me chamou no WhatsApp”.
“Posteriormente, ela disse que havia uma oportunidade de emprego pra mim. Estive em Brasília, falei com o presidente e, logo em seguida, fiquei em Brasília. Vim trabalhar na parte de redes sociais do gabinete dela, nas redes dela. Ela me enviou a senha do site, das redes sociais, mas, logo em seguida, uma decisão do Moraes limitou as redes sociais dela”, contou.
Mudança no código-fonte
Delgatti detalhou a primeira reunião com Zambelli e líderes do PL, partido de Bolsonaro. “Na primeira reunião, estávamos a Carla, o presidente do PL [Valdemar da Costa Neto], os meus advogados, o irmão da Carla Zambelli e eu. E o marido da Carla Zambelli também. O assunto era bem técnico, até que o Valdemar agendou essa reunião mais tarde com o marqueteiro da campanha. O Valdemar entrou em contato com o marqueteiro, e ele disse que, às 15h, ia comparecer no PL”, contou.
O hacker também comentou sobre um segundo encontro. “O marqueteiro disse que o ideal seria que eu falasse sobre a credibilidade das urnas. A segunda ideia era, no dia 7 setembro, eles pegarem uma urna e colocarem um aplicativo meu. Registrar um voto e sair outro”, disse.
“O código-fonte é o código aberto. Compilado, ele vira apenas um, que é o que estava na urna. Quem tem acesso ao código-fonte antes de compilado consegue inserir linhas. O código-fonte obedece quem está criando ele. Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu e inserisse essas linhas, que chamam de código malicioso”, destacou o hacker.
“Ele tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na eleição. Eu criaria um código meu. A ideia dele era falar que a urna, se manipulada, sairia o mesmo resultado. Um código-fonte fake. Essa apresentação fake iria explicar à sociedade, a quem estivesse em 7 de setembro, que era possível aquela urna que eles veem na eleição imprimir outro voto. A ideia era essa”, revelou.
Depoimento à PF
A oitiva na CPMI ocorre um dia após o depoimento de Delgatti à Polícia Federal (PF), em Brasília. O hacker é investigado pela suposta inserção de dados falsos sobre o ministro Alexandre de Moraes, do STF, no Banco Nacional de Mandados de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Investigações apontam que Delgatti teria sido contratado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para prestar os serviços, que teriam o objetivo de beneficiá-lo nas eleições de 2022.
A parlamentar também teria articulado um encontro entre o então presidente e o hacker em agosto do ano passado, ocasião em que Bolsonaro o teria questionado sobre a possibilidade de violar as urnas eletrônicas.
Além de confirmar essas versões, já apresentadas anteriormente, o hacker levou à PF cópia de uma conversa com assessores da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) que comprovam o pagamento em torno de R$ 40 mil a ele.
Estratégia
A convocação de Delgatti foi solicitada por pelo menos seis parlamentares governistas que compõem a CPMI, como Rogério Correia (PT-MG), Duarte Jr. (PSB-MA), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Henrique Vieira (PSol-RJ), Rubens Pereira Júnior (PT-MA) e a relatora do colegiado, Eliziane Gama (PSD-MA).
A estratégia da ala governista na CPMI será questionar qual é a relação entre Delgatti e Bolsonaro. O objetivo é saber se o ex-presidente, de fato, contratou o hacker para tentar sabotar o sistema eletrônico de votação, além da invasão aos sistemas do CNJ.
Fonte: Metropoles
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