Senador de Rondônia Marcos Rogério usa imagens de jovens pretos para ilustrar pautas relacionadas a crimes; advogado vê racismo estrutural

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Senador de Rondônia Marcos Rogério usa imagens de jovens pretos para ilustrar pautas relacionadas a crimes; advogado vê racismo estrutural


Samuel Costa conversou com o Rondônia Dinâmica a respeito do tema e apresentou sua visão profissional acerca do caso

Porto Velho, RO – O senador de Rondônia Marcos Rogério, do PL, é defensor de pauta relacionada à diminuição da maioridade penal no Brasil.

Aliado à extrema-direita liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, seu correligionário, ele postou, há seis dias, um conjunto de artes de imagens falando sobre roubo de celular.

Essa imagem, de fundo escuro, é ilustrada por um jovem negro, de cabelos descoloridos e pintados, gerado por Inteligência Artificial (AI).


O site https://www.aiornot.com/ informa se uma imagem é gerada ou não por Inteligência Artificial / Reprodução-Print Screen

“Se você foi vítima de furto, ou roubo de celular, sabe como é difícil conseguir recuperar o bem. Mesmo que seja possível rastrear em tempo real, é muita burocracia”, destacou o membro da bancada federal.

Ele inclui:

“Foi pensando em reverter isso que apresentei o Projeto de Lei 5073/2019. Assim, será possível rastrear a localização do aparelho em tempo real, sem a necessidade de mandado. E a prisão é feita em flagrante. Muito mais fácil, né? A proposta vale também para outros bens que possam ser rastreados em tempo real, como carros e motos”, anotou.


Marcos Rogério usa imagem de jovem preto gerada por IA para ilustrar postagem sobre roubo de celular / Reprodução

O Rondônia Dinâmica procurou Samuel Costa, advogado e jornalista e defensor dos Direitos Humanos para comentar o assunto.

Antes de se manifestar, ele encontrou no Instagram do parlamentar outras imagens onde é possível verificar de maneira mais clara as características da mesma “pessoa” usada na veiculação acerca de roubos de celular.

Entretanto, na publicação especifica, postada no dia 20 de julho, portanto há três semanas, o jovem gerado por IA surge com outros dois arquétipos da juventude negra, também ilustrando temática envolta a ilícitos: no caso, debate em prol do fim da maioridade penal.


Advogado vê racismo estrutural nas postagens de Marcos Rogério / Reprodução

Questionado pelo Rondônia Dinâmica sobre eventual estereotipagem imposta pelas veiculações trazidas à baila pelo Congressista, disse:

“Sim, a imagem relacionada à implementação do PL [Projeto de Lei] dos menores infratores se trata de racismo estrutural. Nessa imagem a gente pode perceber três negros, e não apenas pelas características da cor da pele, mas também pelas características morfológicas, genéticas”, indicou.

E acresceu:

“Os três estão de blusa branca, mas o da frente, de cabelo loiro, tem traços de pessoa negra. Então quando falo de características morfológicas, características genéticas, muitas vezes as pessoas acham que o negro, preto, é só aquele da pele totalmente escura, mas não. Os traços morfológicos dizem muito sobre a etnia. Então, os traços do nariz, da boca, sim, pertencem à pessoa negra. E é nítido que a associação dessa imagem quer reforçar a falsa ideia de que só o negro está envolvido no mundo do crime”, sacramentou.


Essa é a úinica arte em que a equipe de Marcs Rogério acrescentou tarjas sobre os olhos nas imagens / Reprodução

O causídico vai além:

“É a reafirmação dos “três pês”. Preto, pobre e periférico. Então essa imagem coloca essa pessoa com a sobrancelha erguida, dando ar de perigo. Dando ar de roubo, violência, assalto. A ideia é passar que esse grupo, a comunidade negra, somente ela, faz esse tipo de coisa. O cabelo descolorido reforça mais ainda tratar-se de característica e pessoa negra e periférica. Quando uma moda é lançada o jovem negro quer ir lá, pintar o cabelo, descolorir. Então a pergunta é: até que ponto vamos aceitar esse racismo estrutural em nossa sociedade?”, questionou.

A ideia, segundo Costa, não é discutir política, ideologia, ou se está correto ou não o debate acerca da potencial implementação da norma intentada pelo senador.

O tema central abordado é a marginalização da figura negra na sociedade, destacando as implicações do racismo estrutural.



O entrevistado, ao discutir o assunto, enfatizou a importância de não limitar essa questão apenas ao senador responsável pelo projeto de lei (PL), mas considerar toda a equipe por trás da iniciativa publicitária e institucional.

Samuel levantou a questão de que, embora as estatísticas de crimes muitas vezes se concentrem nas áreas periféricas e entre os menos privilegiados, é crucial analisar o suporte disponível para essa população.

Ele argumenta que a constante associação da figura negra a atos criminosos reforça a marginalização desse grupo, colocando-os na posição de terem que provar sua inocência.

Um exemplo mencionado foi um caso ocorrido em 2021, no bairro do Leblon, Rio de Janeiro, onde um furto de bicicleta ocorreu. A entrevistada destacou como, inicialmente, um jovem branco que morava em uma área de prestígio não foi questionado pela ação, enquanto um indivíduo negro que passava pelo local foi injustamente acusado devido à semelhança da bicicleta.

Por isso, questiona por que o foco não recaiu naturalmente sobre o jovem branco, e salientou que, quando a verdade foi descoberta, o caso recebeu grande atenção midiática. Isso levantou a questão de expectativas sociais e estereótipos relacionados à raça.

Em resumo, o entrevistado expressou sua preocupação sobre como a sociedade muitas vezes tende a associar a figura negra a situações negativas, enquanto questões semelhantes envolvendo indivíduos brancos podem ser tratadas de forma diferente, destacando a necessidade de uma análise mais profunda das causas subjacentes a esses padrões.

“E aí, quando descobriram de fato que quem tinha cometido o roubo era uma pessoa branca que morava no Leblon, isso saiu em todas as capas de jornais, e por que deram esse rebuliço todo? Porque não esperava que uma pessoa branca roubasse? Então, esse é o questionamento, por que não o branco?”, questionou, concluindo.

!AVISO! – O Rondônia Dinâmica acrescentou tarjas nas imagens geradas por Inteligência Artificial usadas por Marcos Rogério (exceto em uma delas, onde sua equipe o fez). Ainda que não sejam seres humanos específicos, as ilustrações podem se parecer com pessoas de verdade, gerando impacto negativo.

Fonte: Rondônia Dinâmica


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