Porto Velho, RO - Chega de vez o acalorado carnaval de épocas, com ele os ânimos dos obcecados foliões se afloram, de tal forma que nem suas máscaras de rosto conseguem esconder ou ao menos disfarçar suas petulantes investidas de flertes e galanteios, em meio à multidão do frevo e furor das fortuitas melodias carnavalescas.
Também motivada pelos ingredientes dos vícios e boa dose de libertinagem. Evidente que ninguém está obrigado a entrar na dança, mas de tal forma por se tratar de uma festa de alegria contagiante e encantos, onde a vaidade e a ostentação imperam, assim o convite é feito por antecipação.
E salve-se quem puder. Como bem propalam os pagodeiros de plantão, quem entra na dança tem que sambar, em outras palavras, "Ajoelhou, tem que rezar". Quisera nós, pessoas de bom senso e do bem, poder conter esta alegórica sanha possessiva e emboscadas levianas, que se alastram em todas as áreas, não tão somente no campo do entretenimento, do lazer e da própria ociosidade.
A priori, a impressão que se possa ter é que o homem natural, por mais preparado ou intelectualizado, está sempre propenso a infringir aos anseios da carne, pouco diferenciando dos nocivos animais irracionais.
Ou seja, ele nunca está deverasmente satisfeito com suas conquistas, mesmo na arena conjugal, com o quinhão que lhe foi gratuitamente concedido pelo supremo criador. E aí vale para os dois sexos, a recíproca é também verdadeira, para a mulher. A exemplo, o carro do vizinho é sempre mais bonito e luxuoso que o seu. O mais certo é que nesta disputada corrida, fala mais alto a inveja e a volúpia.
No célebre romance de Machado de Assis, "Dom Casmurro", a mais de um século atrás, os seus protagonistas Bentinho e Capitu já vivenciavam esta cena, que envolvia riqueza, ódio, beleza e diferença de gosto e personalidades.
Oxalá, que se um dia pudéssemos ser mais felizes e gratos com a honra de acasalamentos perfeitos, a exemplo dos casais de araras, que se regozijam na plenitude de um só parceiro pela vida inteira, vivendo sobre um só espaço em toda caminhada de vida útil. Infelizmente, poucos são encorajados para este fim.
No que pese o aconselhamento espiritual das igrejas cristãs, mas que são sempre surrupiadas ou até engolidas pelos movimentos sócio-culturais modernistas, que incitam a desunião e o neoliberalismo, alicerçados em políticas públicas destituídas do senso familiar. Resultante desta expurgável e inescrupulosa trajetória do ser humano, só temos que lamentar, pelos crescentes índices estatísticos de abandono familiar, casos de feminicídios e tantas outras práticas nojentas na atual conjuntura.
Para os que preferirem não se arriscar nas aventuras do rei Momo, indicamos para uma pausada leitura o livro de Zíbia Gasparetto, "Ninguém é de Ninguém". No mais, confesso que vou me recolher ao ninho da minha estimada consorte, pelo menos até quarta-feira de cinzas. O autor é jornalista e diretor do Instituto Phoenix de Pesquisa Descritiva.
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