Lula também afirmou que não reconhece a vitória do presidente venezuelano e que Maduro deve explicação ao mundo
Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo/ 29-05-2023
Porto Velho, Rondônia - Mais de duas semanas após as eleições na Venezuelan, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira não reconhecer a autodeclarada vitória de Nicolás Maduro nas eleições e que o venezuelano "sabe que está devendo" uma explicação ao mundo. Lula afirmou ainda que se Maduro tiver "bom senso", poderia convocar novas eleições no país.
— Ainda não (reconheço que Maduro ganhou a eleição). Ele sabe que está devendo uma explicação para o mundo. Ele sabe disso — afirmou Lula durante entrevista à Rádio T, em Curitiba.
Lula afirmou ainda que se o presidente venezuelano tiver "bom senso" ele poderia convocar novas eleições, com participações de olheiros internacionais. A ideia de sugerir a Maduro realizar uma nova eleição para tentar pacificar o país havia sido defendida pelo assessor internacional da Presidência, Celso Amorim, mas é a primeira vez que o presidente brasileiro defende publicamente. Lula afirmou, contudo, ser preciso discutir melhor para não tomar uma decisão "precipitada" sobre o assunto.
— O Maduro tem seis meses do (atual) mandato ainda. Se ele tiver bom senso, ele poderia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições, estabelecer um critério de participação de todos os candidatos, criar um comitê eleitoral supra partidário que participe todo mundo e deixar que entre olheiros do mundo inteiro. O que eu não posso é ser precipitado e tomar uma decisão.
O Brasil tenta junto com Colômbia e México a abertura do diálogo entre o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, e o presidente Nicolás Maduro, declarado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Segundo afirmou Amorim nesta semana, a ideia de nova eleição, que funcionaria como uma espécie de segundo turno, ainda é embrionária e ainda não foi discutida com os outros países envolvidos.
Nesta semana, Lula fez um novo contato com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e com o do México, Andrés Manuel López Obrador, para tratar sobre o tema. Embora não tenha dado detalhes sobre a conversa, Lula afirmou que tentaram encontrar uma saída para o impasse nas conversas.
— Eu não posso dizer que a oposição foi vitoriosa porque eu não tenho os dados. Muito pouco posso dizer que o Maduro foi vitorioso porque eu não tenho os dados. Eu nao posso me comportar de forma apaixonada e precipitada. Eu quero o resultado.
Amorim afirmou que levou a sugestão a Lula após ouvir outros atores internacionais. Na hipótese de haver um "segundo turno", ele defendeu que a União Europeia suspenda as sanções em vigor e envie observadores para a eleição.
Desde que ouviu a sugestão, Lula tem considerado o assunto e chegou a tratar sobre o tema na última reunião ministerial, realizada na semana passada. Na ocasião, afirmou que Maduro deveria ter tido, ele próprio, a iniciativa de chamar uma nova eleição no país, segundo pessoas presentes no encontro. Embora afirmem que o assunto não é discutido formalmente dentro do governo, auxiliares de Lula admitem que um novo pleito poderia ser a solução para o conflito no país. Essa é a primeira vez que Lula fala publicamente sobre o assunto.
Integrantes do primeiro escalão dão como certo que a posição do Brasil no conflito pode impactar negativamente na popularidade de Lula, justo em um momento em que as últimas pesquisas Genial/Quaest e Ipec mostram o primeiro aumento da popularidade do petista em 2024.
Eleições
O presidente Nicolas Maduro foi declarado eleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano. Porém, a oposição e parte da comunidade internacional afirmam que o vencedor foi González.
Sem tornar públicos, como diz a legislação, os dados de cada uma das mais de 30 mil mesas de votação, o CNE deu a vitória para o atual presidente Nicolás Maduro por 51,95% dos votos, contra 43,18% do 2º colocado, o opositor Edmundo González. A oposição apresentou supostas atas eleitorais que mostram seu candidato teve mais de 60% dos votos .
Fonte: O GLOBO
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