José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB): em debate da TV Cultura, apresentador arremessou cadeira em ex-coach — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo
Porto Velho, Rondônia - Com rejeição crescente nas últimas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, experimentou um novo pico de atenção ao ser alvo de cadeirada desferida por José Luiz Datena (PSDB) — que também registrou crescimento nas redes sociais após agredir o adversário no debate da TV Cultura, no domingo.
Pesquisas qualitativas e especialistas consultados pelo GLOBO apontam que o episódio recolocou Marçal sob os holofotes em um momento sensível para sua campanha, mas há indícios de saturação do eleitorado com seu comportamento. Para os pesquisadores, a “guerra de narrativas” nas redes nos próximos dias será tão ou mais importante do que reações imediatas para dar o tom de como o episódio impactará a eleição paulistana.
Segundo levantamento da consultoria Bites, o candidato do PRTB ganhou mais de 400 mil seguidores nas suas redes após o debate. No Instagram, onde registrou o maior ganho, Marçal fez cerca de 30 publicações desde a noite de domingo com alusões à cadeirada. Datena também capitalizou as cenas: ganhou 80 mil seguidores nas redes, que vinham sendo justamente um de seus pontos fracos. É dez vezes mais do que o ganho de Tabata Amaral (PSB) após o debate, e muito acima também dos saldos de Guilherme Boulos (PSOL), cerca de 4 mil, e Ricardo Nunes (MDB), com 1,2 mil.
— Ao retomar o protagonismo nas redes, Marçal pode não ganhar votos, mas atrapalha adversários como Nunes e Boulos a atraírem atenção para si mesmos — afirma o diretor da Bites, André Eler.
Impacto nas redes — Foto: Editoria de Arte
‘Passou do ponto’
Duas pesquisas qualitativas, uma conduzida pelo Instituto Locomotiva e outra pelo Monitor do Debate Público, apontam reações adversas a Marçal. Um grupo de eleitores indecisos ou cujo voto não está cristalizado, acompanhados pelo Locomotiva enquanto ocorria o debate da TV Cultura, foi quase unânime na avaliação de que o candidato do PRTB “passou do ponto”.
Segundo o presidente do instituto, Renato Meirelles, Marçal despontou entre esses eleitores como “novidade” e “valentão”; ao longo da campanha, porém, a balança vem pendendo para o segundo lado, desgastando sua imagem nesse grupo.
— Marçal era considerado alguém engraçado, e não necessariamente agressivo. Quando começou a propaganda eleitoral dos adversários, passou a ser visto com mais desconfiança. Agora, no debate, começa a aparecer uma saturação. A essa altura da eleição, não vale a lógica do “falem mal, mas falem de mim”. É preciso falar bem — avalia Meirelles.
Já o monitor, um projeto conduzido pelo Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (Lemep), do Iesp/Uerj, e pelo Instituto da Democracia (INCT), questionou na segunda-feira diferentes grupos de eleitores, de várias regiões do país, sobre suas avaliações da cadeirada. Os eleitores são divididos em cinco faixas, com base no seu grau de alinhamento ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao presidente Lula. Apenas a faixa dos chamados “bolsonaristas convictos” demonstrou majoritariamente apoio a Marçal, elogiado por “desestabilizar” Datena, o que mostraria, na visão deles, “domínio” do jogo político.
Um dos coordenadores do estudo, o cientista político João Feres, observa que este mesmo grupo não havia se solidarizado a Marçal com a mesma intensidade em um monitoramento anterior, quando foram questionados sobre atritos entre o candidato do PRTB e a família Bolsonaro. Por outro lado, segundo Feres, o monitoramento pós-cadeirada apontou que a faixa dos “bolsonaristas moderados” se distanciou de Marçal neste primeiro momento, considerando-o tão errado quanto Datena no episódio.
As faixas de eleitores indecisos e de apoiadores de Lula criticaram majoritariamente Marçal, a exemplo do monitoramento anterior.
— Existe um risco de que ele saia menor do episódio, mas o cálculo que sua campanha parece fazer é de que o risco ainda maior é não aparecer no debate. As redes são uma vantagem para Marçal, só que ajudam mais a consolidar quem já está a seu favor, e eleição se ganha convencendo quem ainda não quer votar em você — afirmou Feres.
Os especialistas ponderam que as pesquisas qualitativas representam uma amostra restrita do eleitorado, não generalizável para todo o público. Além disso, eles avaliam que, mais do que na audiência ao vivo, a impressão do debate é sedimentada a partir da repercussão nos dias que sucedem o evento, seja nas redes sociais ou no noticiário.
Uma nova pesquisa de intenção de votos do Datafolha começa a rodar hoje e será divulgada na quinta-feira, captando o impacto inicial da cadeirada. Nas pesquisas anteriores, a rejeição a Marçal cresceu de forma constante, saindo de 30%, no início de agosto, para 44% na semana passada.
Para o cientista político Renato Dorgan, diretor-executivo do Instituto Travessia, que também vem promovendo pesquisas qualitativas com eleitores sobre a disputa pela prefeitura de São Paulo, Marçal vem conseguindo desidratar Datena . Mas o embate direto com o tucano, embora possa atingir ainda mais o rival, também pode rebaixar o “teto” do ex-coach.
— Existe um eleitor movido pelo espetáculo, que provavelmente já estava com Marçal. Ele pode solidificar um voto que seja importante para chegar ao segundo turno, mas possivelmente ao custo de aumentar cada vez mais sua rejeição, que já foi um fator decisivo em São Paulo na última eleição presidencial —disse Dorgan.
Modulação
A campanha de Marçal emitiu sinais, na segunda-feira, de que ainda busca entender o cenário pós-cadeirada. Imediatamente após o debate, as redes do candidato do PRTB exibiram vídeos em que ele chegava de ambulância ao hospital, dando conotação grave ao impacto da agressão. Ao longo da manhã, porém, ele passou a tratar a cadeirada com ironia.
Para o diretor da Bites, André Eler, Marçal percebeu que as comparações que tentou fazer entre seu caso e a facada sofrida por Bolsonaro tendiam a repercutir mal, por serem agressões de proporções distintas. Presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles avaliou que o bolsonarismo tende a evitar críticas diretas a Marçal pelo episódio; por outro lado, segundo o especialista, há o risco para o candidato do PRTB de esvaziar uma “imagem de força” que é cara a este segmento.
Na campanha de Datena, por sua vez, a primeira avaliação é que sua versão do episódio poderá se sobrepor à uma tentativa de “vitimização” de Marçal. O candidato tucano argumentou ter perdido a cabeça porque o episódio citado por Marçal, de um suposto caso de assédio sexual — o qual Datena nega —, teria gerado grande desgaste à sua família.
Datena busca apresentar a imagem de homem “corajoso e vingado” após a agressão, além de surfar em uma popularidade que, apesar da carreira como apresentador de TV, ainda não havia alcançado nesta campanha. Em nota divulgada na segunda-feira, o candidato do PSDB disse que esperava, com sua cadeirada, ter “lavado a alma de milhões de pessoas que não aguentavam mais ver a cidade tratada com tanto desprezo e desamor”.
Fonte: O GLOBO
Porto Velho, Rondônia - Com rejeição crescente nas últimas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, experimentou um novo pico de atenção ao ser alvo de cadeirada desferida por José Luiz Datena (PSDB) — que também registrou crescimento nas redes sociais após agredir o adversário no debate da TV Cultura, no domingo.
Pesquisas qualitativas e especialistas consultados pelo GLOBO apontam que o episódio recolocou Marçal sob os holofotes em um momento sensível para sua campanha, mas há indícios de saturação do eleitorado com seu comportamento. Para os pesquisadores, a “guerra de narrativas” nas redes nos próximos dias será tão ou mais importante do que reações imediatas para dar o tom de como o episódio impactará a eleição paulistana.
Segundo levantamento da consultoria Bites, o candidato do PRTB ganhou mais de 400 mil seguidores nas suas redes após o debate. No Instagram, onde registrou o maior ganho, Marçal fez cerca de 30 publicações desde a noite de domingo com alusões à cadeirada. Datena também capitalizou as cenas: ganhou 80 mil seguidores nas redes, que vinham sendo justamente um de seus pontos fracos. É dez vezes mais do que o ganho de Tabata Amaral (PSB) após o debate, e muito acima também dos saldos de Guilherme Boulos (PSOL), cerca de 4 mil, e Ricardo Nunes (MDB), com 1,2 mil.
— Ao retomar o protagonismo nas redes, Marçal pode não ganhar votos, mas atrapalha adversários como Nunes e Boulos a atraírem atenção para si mesmos — afirma o diretor da Bites, André Eler.
Impacto nas redes — Foto: Editoria de Arte
‘Passou do ponto’
Duas pesquisas qualitativas, uma conduzida pelo Instituto Locomotiva e outra pelo Monitor do Debate Público, apontam reações adversas a Marçal. Um grupo de eleitores indecisos ou cujo voto não está cristalizado, acompanhados pelo Locomotiva enquanto ocorria o debate da TV Cultura, foi quase unânime na avaliação de que o candidato do PRTB “passou do ponto”.
Segundo o presidente do instituto, Renato Meirelles, Marçal despontou entre esses eleitores como “novidade” e “valentão”; ao longo da campanha, porém, a balança vem pendendo para o segundo lado, desgastando sua imagem nesse grupo.
— Marçal era considerado alguém engraçado, e não necessariamente agressivo. Quando começou a propaganda eleitoral dos adversários, passou a ser visto com mais desconfiança. Agora, no debate, começa a aparecer uma saturação. A essa altura da eleição, não vale a lógica do “falem mal, mas falem de mim”. É preciso falar bem — avalia Meirelles.
Já o monitor, um projeto conduzido pelo Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (Lemep), do Iesp/Uerj, e pelo Instituto da Democracia (INCT), questionou na segunda-feira diferentes grupos de eleitores, de várias regiões do país, sobre suas avaliações da cadeirada. Os eleitores são divididos em cinco faixas, com base no seu grau de alinhamento ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao presidente Lula. Apenas a faixa dos chamados “bolsonaristas convictos” demonstrou majoritariamente apoio a Marçal, elogiado por “desestabilizar” Datena, o que mostraria, na visão deles, “domínio” do jogo político.
Um dos coordenadores do estudo, o cientista político João Feres, observa que este mesmo grupo não havia se solidarizado a Marçal com a mesma intensidade em um monitoramento anterior, quando foram questionados sobre atritos entre o candidato do PRTB e a família Bolsonaro. Por outro lado, segundo Feres, o monitoramento pós-cadeirada apontou que a faixa dos “bolsonaristas moderados” se distanciou de Marçal neste primeiro momento, considerando-o tão errado quanto Datena no episódio.
As faixas de eleitores indecisos e de apoiadores de Lula criticaram majoritariamente Marçal, a exemplo do monitoramento anterior.
— Existe um risco de que ele saia menor do episódio, mas o cálculo que sua campanha parece fazer é de que o risco ainda maior é não aparecer no debate. As redes são uma vantagem para Marçal, só que ajudam mais a consolidar quem já está a seu favor, e eleição se ganha convencendo quem ainda não quer votar em você — afirmou Feres.
Os especialistas ponderam que as pesquisas qualitativas representam uma amostra restrita do eleitorado, não generalizável para todo o público. Além disso, eles avaliam que, mais do que na audiência ao vivo, a impressão do debate é sedimentada a partir da repercussão nos dias que sucedem o evento, seja nas redes sociais ou no noticiário.
Uma nova pesquisa de intenção de votos do Datafolha começa a rodar hoje e será divulgada na quinta-feira, captando o impacto inicial da cadeirada. Nas pesquisas anteriores, a rejeição a Marçal cresceu de forma constante, saindo de 30%, no início de agosto, para 44% na semana passada.
Para o cientista político Renato Dorgan, diretor-executivo do Instituto Travessia, que também vem promovendo pesquisas qualitativas com eleitores sobre a disputa pela prefeitura de São Paulo, Marçal vem conseguindo desidratar Datena . Mas o embate direto com o tucano, embora possa atingir ainda mais o rival, também pode rebaixar o “teto” do ex-coach.
— Existe um eleitor movido pelo espetáculo, que provavelmente já estava com Marçal. Ele pode solidificar um voto que seja importante para chegar ao segundo turno, mas possivelmente ao custo de aumentar cada vez mais sua rejeição, que já foi um fator decisivo em São Paulo na última eleição presidencial —disse Dorgan.
Modulação
A campanha de Marçal emitiu sinais, na segunda-feira, de que ainda busca entender o cenário pós-cadeirada. Imediatamente após o debate, as redes do candidato do PRTB exibiram vídeos em que ele chegava de ambulância ao hospital, dando conotação grave ao impacto da agressão. Ao longo da manhã, porém, ele passou a tratar a cadeirada com ironia.
Para o diretor da Bites, André Eler, Marçal percebeu que as comparações que tentou fazer entre seu caso e a facada sofrida por Bolsonaro tendiam a repercutir mal, por serem agressões de proporções distintas. Presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles avaliou que o bolsonarismo tende a evitar críticas diretas a Marçal pelo episódio; por outro lado, segundo o especialista, há o risco para o candidato do PRTB de esvaziar uma “imagem de força” que é cara a este segmento.
Na campanha de Datena, por sua vez, a primeira avaliação é que sua versão do episódio poderá se sobrepor à uma tentativa de “vitimização” de Marçal. O candidato tucano argumentou ter perdido a cabeça porque o episódio citado por Marçal, de um suposto caso de assédio sexual — o qual Datena nega —, teria gerado grande desgaste à sua família.
Datena busca apresentar a imagem de homem “corajoso e vingado” após a agressão, além de surfar em uma popularidade que, apesar da carreira como apresentador de TV, ainda não havia alcançado nesta campanha. Em nota divulgada na segunda-feira, o candidato do PSDB disse que esperava, com sua cadeirada, ter “lavado a alma de milhões de pessoas que não aguentavam mais ver a cidade tratada com tanto desprezo e desamor”.
Fonte: O GLOBO
0 Comentários