Painel independente deve ouvir relatos e analisar evidências de impropriedade financeira durante dois meses; time pode até ser expulso da Premier League
Haaland foi o artilheiro da temporada histórica do Manchester City — Foto: Franck Fife/AFP
Porto Velho, Rondônia - O Manchester City tem sido uma força imparável no futebol inglês nos últimos anos, mas agora enfrenta o desafio de limpar o nome do clube contra acusações de que seu domínio foi construído com fundações de impropriedade financeira.
Seis anos após o início de uma investigação da Premier League e 19 meses após 115 acusações contra os campeões ingleses, uma audiência que decidirá o destino do City começa nesta segunda-feira.
Um painel independente deve ouvir evidências por pelo menos dois meses e com um veredito improvável até 2025 para o que foi apelidado de "julgamento do século" do esporte britânico.
Do que o City é acusado?
Desde a aquisição em 2008 do xeque Mansour, um membro da família real dos Emirados Árabes Unidos, o City foi transformado de coadjuvante a uma força dominante da Premier League.
Oito dos 10 títulos da liga do clube vieram nas últimas 13 temporadas, além de uma primeira e única Liga dos Campeões em 2023.
No entanto, os chefes do City são acusados de dobrar as regras financeiras à sua vontade enquanto ascendem ao seu status atual.
Das 115 acusações, 80 são por violações dos regulamentos entre 2009 e 2018, enquanto outras 35 se relacionam à falha em cooperar com a investigação da Premier League.
Raiz da suspeita
A raiz da suspeita vem de documentos vazados publicados pelo canal alemão Der Spiegel em 2018.
E-mails supostamente enviados entre os principais executivos do City mostraram que o clube havia inflado a receita de patrocínio da companhia aérea estatal de Abu Dhabi, Etihad, e da empresa de telecomunicações Etisalat, disfarçando o investimento direto do Abu Dhabi United Group de Mansour como renda.
Outros documentos alegavam mostrar pagamentos não registrados ao então gerente Roberto Mancini por meio de honorários de consultoria de um clube em Abu Dhabi.
Pep Guardiola conquistou o tetracampeonato consecutivo da Premier League com o Manchester City — Foto: OLI SCARFF / AFP
O City respondeu às alegações negando qualquer irregularidade e insistindo que há um "corpo abrangente de evidências irrefutáveis" para provar isso.
O City já defendeu sua posição em um caso após conseguir anular uma proibição de dois anos da Liga dos Campeões pela Uefa no Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) em 2020.
O CAS descobriu que a maioria das supostas violações de receita superestimada de patrocínio estava fora do limite legal de cinco anos para ser processada. Mas tal cláusula de limitação de tempo não existe no caso da Premier League.
Quais são as repercussões?
Se for considerado culpado em algumas ou todas as acusações, o City enfrentará uma severa dedução de pontos e possivelmente até mesmo uma expulsão da Premier League.
Everton e Nottingham Forest foram atingidos por deduções de pontos na temporada passada por violações únicas das regras de lucro e sustentabilidade.
Um veredito de culpado também pode pôr fim ao glorioso reinado de Pep Guardiola no Etihad.
O técnico do City, que está no último ano de seu contrato, apoiou firmemente seus superiores, mas disse anteriormente que sairia se eles não tivessem sido honestos com ele.
— Se você mentir para mim, no dia seguinte eu não estarei aqui — disse Guardiola, em 2022.
Severas sanções também levantariam dúvidas sobre o futuro do elenco de jogadores estrelas do City, incluindo o atacante Erling Haaland.
Outros clubes poderiam reivindicar títulos a serem retirados do City e poderiam cobrar indenização se ficar comprovado que o time de Manchester obteve vantagem injusta por meios nefastos.
No entanto, também há muito em jogo para a Premier League, não importa o resultado. Se o City perder o caso, uma era inteira — em um momento em que a primeira divisão inglesa desfruta de destaque global sobre seus rivais europeus — ficará atolada em escândalo.
Por outro lado, se o City provar sua inocência, a Premier League será acusada de ser fraca e ser superada pelos recursos dos clubes apoiados por Estados nacionais.
Fonte: O GLOBO
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