Apesar da imagem de baixaria generalizada do encontro, entorno do prefeito, que disputa o voto conservador com o ex-coach, apoia a guinada para o tom mais bélico e deve mantê-lo na campanha
Datena e Marçal: desentendimento ao fim do terceiro bloco do debate — Foto: Reprodução
Porto Velho, Rondônia - O tom mais bélico e o efeito “todos contra Pablo Marçal (PRTB)” que marcaram o debate deste domingo (2) em São Paulo deve ser adotado até o fim da campanha pelos concorrentes do ex-coach, em especial Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB), que tentam colar nele a pecha de “criminoso” por conta de sua condenação por furto qualificado e as supostas conexões de seu partido com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Marçal, por sua vez, acredita que os embates são positivos, pois o colocam no centro das atenções e dão a oportunidade de aparecer mais, já que o empresário não tem tempo de propaganda na TV.
Apesar da imagem de baixaria generalizada do debate, o entorno de Nunes entende que o saldo do evento foi positivo. A ideia, nas palavras do próprio prefeito, é continuar trabalhando para tentar “desmascarar” e “desconstruir” Marçal. Segundo o GLOBO apurou, Nunes foi orientado a adotar um tom mais bélico, contrastando com a postura calma e programática em que vinha apostando, uma mudança que deve marcar a campanha do prefeito daqui para a frente. A estratégia de seu marqueteiro, Duda Lima, e de outros integrantes da campanha inclui as redes sociais, os programas eleitorais de TV e rádio e falas durante entrevistas e debates.
Nunes foi consultado pelos seus estrategistas se a campanha poderia “ir para cima” de Marçal, e o prefeito deu o aval. Desde então, começou a criticar o ex-coach com mais contundência. Na sexta, inserções de sua campanha na rádio provocaram: “Você conhece Pablo Marçal? É bom a gente conhecer, né. Então digita no Google: Marçal PCC. Vou repetir. Marçal PCC”. Nos bastidores, a campanha vasculha os processos judiciais e investigações envolvendo o influenciador e trabalha para incluí-los nas inserções televisivas nos próximos dias. A avaliação de integrantes da campanha de Nunes é que o jogo baixo de Marçal obriga os candidatos a seguirem esse caminho, e não há mais espaço para moderação no discurso ou fazer uma campanha só focada em propostas.
No debate, Nunes iniciou sua fala partindo para o ataque. Poucos minutos após o programa começar, suas redes já foram abastecidas com trechos dos ataques a Marçal e Guilherme Boulos (PSOL). Trata-se de uma estratégia dupla: colocar o emedebista como alternativa a “dois invasores”, um de bancos, outro de propriedades. A avaliação de aliados de Nunes é que houve uma falha na comunicação do prefeito ao não se antagonizar a Boulos, e que Marçal tomou esse espaço. Por isso, a ideia é atacar o candidato do PRTB sem perder de vista o psolista, que ainda segundo a análise da campanha do emedebista está quase garantido no segundo turno.
A mudança de rota do prefeito chamou a atenção de especialistas em marketing político:
— Nunes parecia muito nervoso (no debate) , a agressividade dele passava do tom. Quando ele resolve ser ativo, assume um tom agressivo — diz o cientista político Claudio Couto.
Tabata partiu para o ataque a Marçal nas últimas semanas, antes dos concorrentes, colocando Marçal como principal alvo da campanha e viralizando um vídeo no qual "investiga" o ex-coach. No entorno da candidata, a avaliação é que o debate teve saldo positivo para a candidatura. No programa, Tabata divulgou uma nova representação judicial contra Pablo e, tanto nas participações nos próximos embates televisivos quanto na campanha, deve seguir com a postura de enfrentamento, enquanto apresenta propostas do seu plano de governo para a capital.
Já José Luiz Datena (PSDB), que protagonizou um dos momentos mais tensos do debate, quando desceu do púlpito para bater de frente com Marçal, é dúbio em relação a adotar como regra o enfrentamento direto. A cena foi explorada nas redes sociais do jornalista, mas dentro da equipe responsável pela estratégia do candidato a avaliação é que dar mais espaço para ataques diretos contra os oponentes é uma opção que beneficiaria mais os adversários do que Datena. Ao mesmo tempo, um importante estrategista do apresentador afirma que ele estaria disposto a "baixar o nível" contra o ex-coach:
— Alguém precisa parar esse cara. Se for preciso isso para prestar um serviço a cidade... Fascista você combate do mesmo nível para baixo — afirma o aliado.
As peças publicitárias de Datena que serão publicadas nos próximos dias vão focar em problemas que dialogam com a população mais vulnerável da cidade, como a ampliação do horário de funcionamento das unidades de saúde, grupo em que a candidatura está de olho. Ao citar Marçal, Datena se apresentará como uma alternativa à “polarização”: “É Datena para parar Marçal e derrotar o PT. Chega de polarização!”, diz um dos materiais da campanha.
Boulos, por sua vez, prefere adotar um meio termo. Apesar das cobranças, sua campanha acha mais importante manter a linha estabelecida no início da disputa como uma continuidade da campanha presidencial “união e reconstrução”. Ele dobra a aposta na narrativa, apesar de ter reconhecido Marçal como um adversário que deve ser endereçado, como mostrou o debate deste domingo — pela segunda vez, ele usou esse tipo de evento para divulgar condenações judiciais de Marçal.
A campanha de Marçal avalia que o debate mostrou que ele continua sendo o principal assunto e ganha com os debates completos, porque consegue jogar Datena e Nunes para a esquerda junto com Tabata e Boulos ao ser alvo de todos. Segundo aliados do empresário, Boulos teria ficado apagado ao manter uma linha mais propositiva, justamente pela confiança que tem em ir para o segundo turno, enquanto Nunes não teria o "perfil de ataque" que tentou adotar.
Em relação aos ataques que sofreu dos adversários, relacionados à condenação na Justiça do Trabalho e os supostos e-mails que teria disparado para alavancar seus novos perfis nas redes sociais, o entorno do ex-coach acredita que isso não cola nele e seria "mais do mesmo". A campanha de Marçal ainda acredita que o destempero de Datena, ao ir até seu púlpito, foi uma espécie de trunfo, pois lhe deu a chance de explorar a narrativa de principal alvo dos demais.
Fonte: O GLOBO
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