PIB forte eleva preocupação com inflação e pressiona Banco Central a iniciar alta dos juros

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PIB forte eleva preocupação com inflação e pressiona Banco Central a iniciar alta dos juros

Já há previsões de subida maior da Selic ou ciclo mais longo de aumento

Vaivém. A Avenida Passos, que divide a região da Saara ao meio, em mais um dia movimentado — Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo

Porto Velho, Rondônia -
A surpresa com crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, bem acima da expectativa média de 0,9%, levou a uma série de revisões para cima nas projeções para o desempenho da economia este ano. Analistas de mercado esperam alta em torno de 3% e já há analista prevendo crescimento de 3,3%.

Segundo economistas ouvidos pelo GLOBO, o impulso que o PIB do segundo trimestre deixa para o resto do ano está entre 2,5% e 2,9%. Isso significa que, se o PIB não crescer nada no terceiro e no quarto trimestres, a alta anual, que leva em conta o desempenho da atividade econômica ao longo de todo o ano, já seria de pelo menos 2,5%. Como os economistas estão prevendo expansão nos próximos trimestres, a expansão seria maior que os 2,5%.

A equipe de economistas do Itaú esperava avanço de 1% no segundo trimestre, ante o primeiro. Com isso, o crescimento anual seria de 2,5%. Agora, nas contas da economista Julia Gottlieb, da equipe do banco, o desempenho do segundo trimestre já levaria a um avanço anual de 2,9%. Por isso, a tendência é de revisão para cima, embora o banco ainda não tenha atualizado os cálculos.

— Vemos uma desaceleração no segundo semestre, mas o viés é de revisar para cima — disse Julia.

Novas estimativas para economia — Foto: Editoria de Arte/O Globo

Governo revisa para 2,8%
Após a divulgação dos números do PIB, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo também deve revisar as projeções de crescimento de 2024. Segundo ele, a equipe econômica espera que o PIB possa superar um avanço de até 2,8% neste ano:

— A projeção da SPE (Secretaria de Política Econômica) que estava para ser atualizada, estava em 1,35%, então veio 1,4%, muito em linha com as projeções da SPE. Agora nós vamos provavelmente reestimar o PIB para o ano, que deve, pela força com que ele vem se desenvolvendo, superar em 2,7%, 2,8% e há instituições que já estão projetando um PIB superior a 3%.

O ministro disse ainda que um crescimento acima de 2,5% no ano pode levar a equipe econômica a revisar as receitas do Orçamento de 2025, mas que a decisão ainda será analisada pelo governo:

— Nós fechamos o Orçamento com um PIB estimado de 2,5%. Qualquer coisa para além disso vai se refletir no aumento de receitas, proveniente do crescimento orgânico da economia.

Daniel Xavier Francisco, do banco ABC Brasil, é um dos que estão estimando alta superior a 3%. A previsão é de 3,3% este ano. Estavam prevendo 2,5%, mas os novos números motivaram a correção de rumo.

Os economistas da ASA também projetavam um crescimento de 2,5% em 2024, antes dos números divulgados ontem pelo IBGE. Agora, já passaram para 3%, conforme relatório. Na mesma linha, a equipe da corretora e gestora Guide Investimentos escreveu que colocam “um forte viés altista na nossa projeção de crescimento, revisando preliminarmente de 2,2% para 2,9%”.

O economista-chefe da gestora G5 Partners, Luis Otávio Leal, foi outro que revisou sua estimativa de crescimento anual para 2,7%, ante os 2,5% de antes, “com possível viés de alta, caso a atividade não apresente acomodação no segundo semestre”.

Com os números bem mais fortes que o esperado, o economista Rafael Perez, da Suno Research, divulgou em relatório que também irá revisar para cima a projeção do PIB, que era de 2,5% e agora “deve ficar mais próximo de 3% este ano”.

Pressão na inflação

Para os próximos trimestres, é esperada uma desaceleração no ritmo do crescimento, com uma perda natural de fôlego da demanda, que será arrefecida por alguns fatores, incluindo a política de juros.

“Olhando à frente, esperamos alguma moderação do crescimento na 2ª metade deste ano, para ao redor de +0,4%“, afirma Francisco, do banco ABC Brasil.

O encarecimento de energia, com fixação da bandeira vermelha 2 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na semana passada, tende a reduzir o crescimento da indústria, diz o economista do banco. A construção civil também subiria menos com o calendário eleitoral que restringe inaugurações durante da campanha.

Com o crescimento maior que o esperado, o Banco Central pode se ver pressionado a aumentar a taxa básica Selic (hoje em 10,5% ao ano), diante de projeções que colocam a inflação acima da meta.

“Com a bandeira vermelha afetando a conta de energia, o IPCA já chega a 4,5% este ano, considerando que a bandeira permaneça nesse patamar até o final do ano. Se adicionarmos a pressão de demanda que vem acelerando, o BC não terá alternativa a não ser subir os juros em setembro. A chance maior era de 0,25 (ponto percentual), mas a possibilidade de alta de 0,5 (ponto percentual) aumentou e deve se consolidar”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

O banco ABC Brasil também elevou sua estimativa para a Selic ao fim de 2024, de manutenção da taxa em 10,5% ao ano para 11,25%.

Para o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, não haverá outro caminho para o Banco Central ao não ser aumentar juros:

“Os dados muito fortes de demanda doméstica de hoje aumentam significativamente as chances de um aumento de taxa na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de setembro. Em nossa avaliação, houve uma clara deterioração do cenário de inflação doméstica”, disse em relatório.


Fonte: O GLOBO

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