Ramagem pressiona pastores aliados de Paes para virar voto evangélico no Rio

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Ramagem pressiona pastores aliados de Paes para virar voto evangélico no Rio

Bolsonarista tenta atrair igrejas que já acenaram ao prefeito enquanto parlamentares do PL constrangem líderes contemplados com verbas


Paes durante celebração em culto evangélico dominical, e Ramagem na igreja evangélica Atitude — Foto: Divulgação e reprodução

Porto Velho, Rondônia -
Restando pouco mais de uma semana de campanha no primeiro turno, o candidato bolsonarista à prefeitura do Rio, Alexandre Ramagem (PL), busca virar o voto de pastores que se alinharam ao postulante à reeleição, Eduardo Paes (PSD). Além de uma ofensiva de Ramagem para atrair igrejas que chegaram a acenar com apoio a Paes, parlamentares do PL passaram a constranger líderes religiosos contemplados com verbas da prefeitura.

O esforço de Ramagem pelo apoio de lideranças evangélicas compõe uma tentativa mais ampla de atrair o eleitorado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu padrinho político, na disputa contra Paes. Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada apontou um avanço do deputado entre eleitores bolsonaristas, assim como em segmentos que tradicionalmente dão mais votos a Bolsonaro, como os evangélicos. Paes, no entanto, seguia à frente do candidato do PL entre os fiéis, com 54% a 22%.

Na noite de segunda-feira, Ramagem participou de um encontro, na Zona Oeste do Rio, com pastores ligados à Convenção Evangélica das Assembleias de Deus no Rio (Ceader), uma das sete convenções que organizam a igreja no estado. A reunião foi articulada pelo pastor Marcelo Bruner, aliado do governador Cláudio Castro (PL) e do ex-deputado Eduardo Cunha (Republicanos), ambos apoiadores de Ramagem.

O próprio Ramagem anunciou, nas redes sociais, ter recebido o “importante apoio” da Ceader no encontro. A entidade já havia sido cortejada por Paes, cuja gestão liberou R$ 1,5 milhão para um evento organizado pelo Ceader no Maracanãzinho no fim de junho.

Post apagado

Semanas depois do evento, Paes recebeu lideranças evangélicas na prefeitura e chegou a anunciar o “apoio unificado de todas as convenções das Assembleias de Deus”, incluindo a Ceader, à sua candidatura. A publicação, porém, foi apagada posteriormente de suas redes sociais. Procurado pelo GLOBO, o pastor Flávio Marinho, presidente da Ceader, não comentou o apoio anunciado por Ramagem.

Os patrocínios da prefeitura do Rio a eventos evangélicos entraram na mira de aliados de Ramagem. A candidata a vice na chapa do PL, India Armelau, divulgou um vídeo no fim de semana em que questiona os seguidores se “seu pastor ou sua pastora é uma pessoa de valor ou uma pessoa de preço”.

Em visita ao Rio há duas semanas, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro havia usado a mesma frase, em um ato de campanha ao lado de Ramagem. No seu vídeo, Armelau foi além e criticou “pastores que estão se vendendo, postando vídeo apoiando Eduardo Paes”.

“Ou então dizem que é só um agradecimento. Para quem sabe ler, um pingo é letra. Perto das eleições e essa distribuição de patrocínio”, disse Armelau.

O recado foi direcionado ao pastor Cláudio Duarte, um dos organizadores da Marcha para Jesus na capital fluminense. Duarte gravou um vídeo com Paes no qual agradece o apoio do prefeito à realização do evento. As imagens estão sendo usadas por Paes como propaganda eleitoral paga nas redes sociais; no vídeo, o prefeito cumprimenta Duarte e diz que, “enquanto estiver aqui, vai ter sempre Marcha para Jesus”.

Outro apoiador de Ramagem, o deputado federal Luiz Lima (PL-RJ) exibiu uma foto em que Paes aparece com os pastores Silas Malafaia e Cláudio Duarte na Expo Cristã, no início deste mês. O evento foi realizado com apoio do Conselho de Ministros Evangélicos do Rio (Comerj), entidade presidida por Duarte, e captou R$ 3 milhões de patrocínio da prefeitura. Ao publicar a foto, Lima também ironizou a postura amistosa de Malafaia com Paes. O deputado lembrou a aliança do prefeito com o presidente Lula e os ataques de Malafaia ao candidato do PRTB em São Paulo, Pablo Marçal, que o pastor não considera verdadeiramente “de direita”.

“Dudu do Rio segue forte em todas as esferas, sendo soldado do Lula e do PT. Mas para alguns, a culpa é do Marçal em São Paulo”, escreveu Lima.

Sem mencionar os deputados do PL, Malafaia explicou a foto, na terça-feira, como um encontro institucional, e frisou a presença de Castro ao seu lado na mesma mesa. O pastor, que tem boa relação com Paes, já disse que não se posicionaria no primeiro turno.

Apoio financeiro

Paes já usou na propaganda eleitoral imagens de outro evento evangélico, em alusão ao centenário das Assembleias de Deus, para sinalizar proximidade com diferentes ramos da igreja — como a Vitória em Cristo, liderada por Malafaia; a de Madureira, sob gestão do bispo Abner Ferreira; e a de Belém, do bispo Samuel Câmara. O evento em questão, realizado no fim de junho na Praça XV, também obteve cerca de R$ 1 milhão em recursos da prefeitura. Na mesma semana, Paes recebeu o apoio do bispo Abner para sua campanha à reeleição.

Segundo levantamento do vereador Pedro Duarte (Novo), que faz oposição a Paes, o prefeito também já destinou R$ 1,3 milhão, no último mês, para apoiar apresentações do grupo musical gospel “3 Palavrinhas”, voltado para o público infantil. O recurso foi captado pela Fundação de Radiodifusão Educativa Costa Dourada, ligada à rádio gospel Boas Novas, cujos dirigentes também atuam na Assembleia de Deus de Belém.


Fonte: O GLOBO

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